A retomada do sabor da vida, do cheiro do conhecimento, da textura que sinto dentro, do desenrolar dos caminhos, da tecitura da flor.
No último sábado, o Coletivo Lélia Gonzales, sob coordenação da professora Jaqueline Costa, me transportou para a dita conhecida entre os nossos de que “O futuro é ancestral.” o querido Ailton Krenak, com sua sabedoria, relembra essa frase. Eu novamente com os textos atrasados para ler mas sentindo que o livro interno já sabe o caminho.
Meio embasbacada, me percebo com os dados de toda estratégia de apagamento que foram pensadas para nos extinguir.
Percebo um norte negro, aquilombado, me sinto encorajada a me reunir, dito esta:
Nada de nós, sem nós!
Que beleza saber que, de certa forma, abrimos caminhos para outro mundo possível às nossas amadas mulheres.
O feminismo Negro se percebe no todo, criando espaço seguro para que nossas vozes possam escoar.
Sem mais desculpas, vou seguindo esse compasso, me percebo luz e cruzo a minha passarela que está recheada de bons olhares. Olhares cúmplices que, de mãos dadas, vão caminhando ao meu lado.
Quanto conhecimento partilhado!
Agradeço aos Orixás e aos meus guias por terem me conduzido até aqui.
Na roda, Mazé Morais, agricultora familiar referência, nos fala da coordenação da Marcha das Margaridas e da CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura)..
A Dra. Luma (primeira doutora Trans da Unilab) trouxe também que não basta ser mulher, é preciso ter consciência política para construir um novo olhar.
No dia 27 de abril, também se comemorou o dia da trabalhadora doméstica no Brasil. Temos raça!
Quem apresentou também foi a Carmem Foro, agricultora do estado do Pará, atua na Secretaria de mulheres e participa da CONTAG e da Cut. Ela nos diz da construção da dignidade em todos os espaços e afirma que nada vai nos parar.
Quando nós migramos, a vida de toda a família se altera. Nossas trajetórias vão se assemelhando. Lélia González é a criadora do pretuguês e ela nos faz alguns apontamentos no que viria a ser ausência de um debate entre racismo e sexismo.
Jaqueline Costa também aponta que é importante ler os clássicos, pensar sobre e fazer a crítica necessária. Aqui é um espaço Seguro e você é bem-vinda !
Motumba!
Outra pensadora estudada também foi a Patrícia Collins. Ela é uma pensadora do feminismo negro.
Outro termo levantado também foi a intencionalidade do direito. A gente observa que muitas coisas acontecem na contemporaneidade, porém poucas desses acessos chegam até nós, mulheres negras.
Lélia Gonzales faz uma revisão dos estudos sobre as mulheres, trazendo essa perspectiva da negritude em seu livro.
Outra pensadora citada foi Grada Quilomba, que fala da escrita de si como um trabalho interior necessário, isso nos gera pertencimento.
Outra fala que também ressoa em mim é: “Eu não li, mas eu já sinto.”
Além disso, todas trouxeram uma crítica sobre o conhecimento tardio das autoras negras. Aqui, eu reflito e sinto que as autoras negras se apresentaram para mim no momento em que eu podia olhar para ela, olhar para mim e que está tudo certo.
Não se nasce mulher, torna-se mulher.
No nosso encontro, tinha umas 189 mulheres de todas as partes do país. A gente busca a promoção do Bem Viver e, nas falas, eu escuto processos de educomunicação como tecnologias ancestrais.
Ouço também falar sobre a amefricanidade Amazônica e quilombola. Buscamos falar das Ausências na existência. Do apagamento das mulheres e a exclamação que passa por todos nós é a seguinte: “Meu Deus, alguém está pensando o mesmo que eu!”
Outra forma de conhecer as autoras e autores negros foi através do Clube do livro, onde a gente recebe o autor Frantz Fanon e também Conceição Evaristo, que fala da Maternidade Negra. Muitas vezes, a mulher negra vai cuidar dos filhos de outras mulheres e não exerce a sua maternidade. Tem que deixar os seus filhos aos cuidados de outras.
Outra autora também estudada é Djamila Ribeiro e o seu estudo através dos feminismos plurais e a luta que ela mesma trava no livro O Pequeno Manual Antirracista.
Algumas pessoas citam também as falas de Djamila no Café Filosófico e citam também Ângela Davis outra pensadora que no seu encontro com Lélia Gonzales diz que, no Brasil, temos as nossas próprias referências
Ângela conta que aprendeu mais com Lélia do que Lélia com ela. Sueli Carneiro também criadora do Geledés, fala do epistemicídio que nós vivemos, onde o conhecimento é morto antes de chegar, antes da possibilidade de conhecermos, já ceifam.
Com isso também, as irmãs de Santarém. “Somos uma bagunça organizada!” - uma fala que ressoa como construir uma psicologia que nos representa através dessa matripotência; sermos protagonistas abrindo caminhos para que outras sejam. Nesse momento, eu me identifico.
Foi dito sobre a necessidade de referenciarmos nossa fala dentro do Movimento Negro Unificado. Isso foi algo que me mexeu muito comigo.
E aí outras autoras também para o nosso conhecimento vão chegando: Paulina Chiziane, Toni Morris, Conceição Evaristo e Cida Bento, que fala do pacto da branquitude. Carolina Maria de Jesus em tantas outras… Aí, a gente faz uma pausa para os dois capítulos que foram estudados.
O Capítulo 6 do livro de Lélia Gonzalez, onde ela afirma que nós não estamos incluídos no projeto de nação. A gente foi excluída do desenvolvimento do país, houve no Brasil, sim, uma segregação.
A professora cita que, no Brasil, não fomos incluídas no projeto de nação. O que houve foi uma segregação populacional e que a gente viveu migrações dentro da própria região com esse objetivo de branqueamento do sudeste do Brasil.
Ela traz uma informação que as ações afirmativas surgiram na Índia no contexto das castas populacionais, que foi uma forma que o governo encontrou de democratizar o acesso aos bens e serviços.
Quando essa política chegou no Brasil, foi discriminada pelas classes dominantes e acabou despertando a importância do conhecimento. Isso despertou em mim o nome deste texto: “O Sabor da Maçã”, pois o conhecimento é uma memória doce para mim.
Eu sinto que o conhecimento me torna livre, me liberta!
Uma dica de filme que ela traz é o Histórias Cruzadas.
Patrícia Hills falou desses mecanismos de controle da branquitude.
Ela traz o poder da autodefinição, onde ser mulher negra e estar em constante negociação na sociedade, que nós somos então sobrecarregadas por zelar por todos em nossa volta, no trabalho e em nosso lar restante pouquíssima oportunidade de autoconhecimento e estudo.
Audre Lord quando a mesma afirma que para sobreviver sempre tivemos de estar vigilantes. A professora Jaqueline pontua também que a nossa raiva é ancestral, isso aí é um colo que eu recebo porque nós mulheres negras somos filhos.
E aí quando a gente vê que existe uma raiz e procura curar essa raiz através de nós é muito importante esse curso do trabalho educativo em coletivo a busca pelo nosso espaço seguro:
A Voz das mulheres:
“Nada de Nossa Senhora! Nesse sentido, vamos buscar desenvolver e criar uma bolha para espaços de existência e resistência. E uma forma da gente se fortalecer é abrindo esses caminhos.”
Ela traz para reflexão:
Em quais lugares a gente pode pensar como sendo lugares seguros para a gente?
Nesse sentido, entendo esse espaço aqui com você, a terapia, como passos do autocuidado com meus pares.
Eu saio desse primeiro módulo do curso com muita sede e também com a alma cansada. Eu precisei deitar depois da aula, tem muito conteúdo, são muitas Histórias Cruzadas, mas eu sinto que eu me sinto!
Minha escrevivência
02/05/2024
Bibliografia
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