
Percurso afetivo sobre pessoas e suas relações com a natureza curativa das plantas medicinais. O projeto Conversas que Curam encontra com Valdir Feijão e Dona Gelcy para a partilha de saberes. Na metodologia proposta, são quatro encontros onde são feitos entrevistas, roda de partilha e devolução do material produzido, registro audiovisual e cartilha divulgando o trabalho desses atores, Guardiões dos saberes ancestrais. Seu Valdir Feijão e Dona Gelcy são moradores do quarto distrito de Barra Alegre, ele morador de Pedra Aguda e ela moradora do Pinduca.

Dona Gelcy chegou até mim pelo meu colaborador Ian Schuaber. Ele falou de uma senhorinha muito gente boa que era buscada por sua mãe por auxiliar no tratamento de saúde, seja com chá, xarope, ervas… Na escola, soube também de uma senhora, avó de Teteco, que guardava grande saber. Teteco, por sua vez, tinha um interesse de falar sobre a história de Angola. Certo dia, passando em frente à casa de Dona Gelcy , estacionei meu carro com as crianças e vi que Teteco morava lá e perguntei: “ - Uai Teteco, Dona Gelcy é sua avó?” Ele afirmou que sim, mas que agora precisava trabalhar. Percebia que ele era um pouco tímido. Também sentei ao lado de Dona Gelcy que, com seu sorriso cativante, me convidou para conhecer seu quintal . Disse a ela que voltaria outro dia para reconhecer as plantas e, quem sabe, fazer o seu famoso xarope. Ela concordou. Então, nesse momento, a gente busca esse encontro para entrevistar Dona Gelcy sobre o seu saber. Ela disse que gostaria que o marido também tivesse junto na ocasião do nosso primeiro encontro. Ele estava na roça buscando vassourinha do campo ou, melhor dizendo, alecrim do campo para varrer o quintal de Chão batido que guarda a história de uma vida a dois na lavoura, criando os filhos com suor do trabalho manual.
Desde minha chegada em Boa Vista, ouço falar do seu Feijão que passa com o seu Fusca marrom com rodas de trilha na região e é famoso por suas bebidas à base de água ardente, de cachaça. Encontrei o Valdir Feijão na Feira de Barra Alegre, onde a gente estava promovendo e o cumprimentei. Com a sua forte mão, ele me disse que sua avó também era benzedeira e disse que eu havia conseguido. Eu perguntei o que eu tinha conseguido e ele me respondeu: Envolver as pessoas, chegar em espaços fechados… Ele me revelou: “ Tô aqui há 30 anos, no meu cantinho, e digo que é muito difícil o que você conseguiu.” Tempos depois, encontro com Valdir Feijão na rua de minha casa. Estava na estrada, caminhando com Yamandu, meu filho, e Seu Valdir passou descendo para fazer compras em Barra Alegre. Perguntei se podia ir, algum dia desses, na casa dele. Ele respondeu que podia, fazia um tratamento com a babosa há mais de 15 anos. Ele e sua filha. Que é um tratamento preventivo que eu iria gostar de conhecer. Fiquei feliz com a possibilidade de mais um encontro, em seu quintal, para partilhar de seu saber. Seu Valdir feijão foi apresentado também através de histórias pelo meu companheiro, pelo George… Todos conheciam o trilheiro da Pedra Aguda que recebe visitantes do mundo todo para fazer track e acompanha esses visitantes na região há mais de 30 anos.
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Na casa de Dona Gelcy, o chão é de barro. Terra batida, histórias que atravessam quatro gerações vivas. Ouço de uma fazenda, ouço de um rezador, ouço uma história de amor muito cravada no trabalho.
Conheço um jovem trabalhador que, aos 5 anos foi forjado na enxada, a lida cotidiana com café, com a fé.
Conhecer o seu sogro em sermões de silenciar multidões, ele, pai de Geilcy e sua mãe analfabeta com uma sabedoria de invejar doutores.
Dona Gelcy repassou para a filha a sabedoria do feitio do xarope, esse que me faz encontrar o Caxambu de Dona Tiana .
No chão batido, uma pedra riscada, cachorro que gosta de água gelada. A neta chega para ouvir a prosa e afirma toda orgulhosa que tem irmão que sabe brincar a Folia de Reis. O marido de Gelcy, Seu Leco, diz que para se fazer folia é preciso, pelo menos,12 brincantes e eu me pergunto o porquê. A resposta nasce de dentro. Durante as 12 noites santas, revelações dos astros chegaram de que uma estrela matutina guiaria os reis do oriente ao estábulo de onde aquela mulher parida trouxe a luz o menino Jesus.
Dá licença, aí dá licença aos donos da casa, peço licença para chegar …
- que eu não me corrompa, que eu não me corrompa nunca!
Essa história me faz lembrar que missão a Folia e o Caxambu estão a nos chamar. No meio do café, saúde e memória confluem. Velhos amigos experientes, com mais de 80 anos e prósperos com previsão de se tornarem centenários. Eu com o coração batendo e a cabeça gritando, imaginando a Folia de Reis naquele terreiro reinar. Só me peço licença para servir com amor para realizar.
Ana Maria, Pinduca divisa Trajano de Moraes 04 de novembro de 2024.
Valdir Feijão - o caminhante

Sexta-feira,
Dia santo!
Dia de conhecer a história de Valdir Feijão!
Ele é morador de Pedra Aguda, nos recebe em sua casa ao pé da pedra com o café, uma água na cuia e livros que contam sobre os tratados populares de plantas medicinais.
Na equipe, Seu Tonho da sanfona, Seu Sirley, Homeopata popular e Mayá juntos seguimos em direção àquele espaço novo para mais um curador encontrar.
Mestre dos caminhos, Valdir Feijão faz trilhas de 14, 20 Km, passando pelo território de Sana, Lumiar, São Pedro e região.
Ele faz um percurso de reconhecimento das plantas medicinais no caminho da mata Atlântica e tem já uma apostila com esse registro. Sua filha, formada em psicologia, fez a dissertação falando sobre as plantas medicinais, um tratado familiar.
Valdir Feijão conta que sua avó, com quem foi criado, era parteira e sabia fazer as práticas que poucos médicos conheciam de verdade, na lida. Ele fazia gente nascer, fazia bebê virar no ventre sabia de xarope, ervas e encantarias. Curiosa, perguntei de onde vem seu nome "Feijão". Ele disse que ama essa semente, esse grão que, muitas vezes, minha avó saía para realizar partos e ele ficava na casa da vizinha, que tinha um feijão maravilhoso, daí foi pegando esse apelido Valdir Feijão.
Conta que, há mais de 15 anos, faz um tratamento preventivo com a babosa conhecida como "A santa babosa" pelo um frei francsicando que passou pelo sul do Brasil fazendo esse xarope para curar muitas doenças. Ele nos conta empolgado sobre essa experiência e sobre como que, aos mais de 70 anos, não tem nenhum diagnóstico de falta de saúde e sim exibe um porte atlético e uma disposição para cozinhar, receber grupos e conversar. Soube também que ele dedilha bem no violão, mas isso será uma próxima história.
Ouça a Entrevista na Íntegra:
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